quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Texto de Ruy Coppola, de 2003. Antigo, mas divertido de se ler:

Estimado presidente, assisti na televisão, anteontem, a trecho de seu discurso criticando o Poder Judiciário e dizendo que V. Exa. e seu amigo Márcio, ministro da Justiça, há muito tempo são favoráveis ao controle externo do Poder Judiciário, não para "meter a mão na decisão do juiz", mas para abrir a "caixa-preta" do Poder. Vi também V. Exa. falar sobre "duas Justiças" e sobre a influência do dinheiro nas decisões da Justiça. Fiquei abismado, caro presidente, não com a falta de conhecimento de V. Exa., já que coisa diversa não poderia esperar (só pelo fato de que o nobre presidente é leigo), mas com o fato de que o nobre presidente ainda não se tenha dado conta de que não é mais candidato.

Não precisa mais falar como se em palanque estivesse; não precisa mais fazer cara de inconformado, alterando o tom da voz para influir no ânimo da platéia. Afinal, não é sempre que se faz discurso na porta da Volks. Não precisa mais chorar. O eminente presidente precisa apenas mandar, o que não fez até agora. Não existem duas Justiças, como V. Exa. falou. Existe uma só. Que é cega, mas não é surda e costuma escutar as besteiras que muitos falam sobre ela.

Basta ao presidente mandar seu amigo Márcio tomar medidas concretas e efetivas contra o crime organizado. Mandar seus demais ministros exercer os cargos para os quais foram nomeados. Mandar seus líderes partidários fazer menos conchavos e começar a legislar em favor da sociedade. Afinal, V. Exa. foi eleito para isso.

Logo depois, sr. presidente, no mesmo canal de televisão, assisti a uma reportagem dando conta de que, em Pernambuco (sua terra natal), crianças que haviam abandonado o lixão, por receberem R$ 25 do Bolsa-Escola, tinham voltado para aquela vida (??) insólita, simplesmente porque desde janeiro seu governo não repassou o dinheiro destinado ao Bolsa-Escola. E a Benedita, sr. presidente? Disse ela que ficou sabendo dos fatos apenas no dia da reportagem.

Como se pode ver, sr. presidente, vou tentar lembrá-lo de algumas coisas simples. Nós, do Poder Judiciário, não temos caixa-preta. Temos leis inconsistentes e brandas (que seu amigo Mário sempre utilizou para inocentar pessoas acusadas de crimes do colarinho-branco). Temos de conviver com a Fazenda Pública (e o sr. presidente é responsável por ela, caso não saiba), sendo nossa maior cliente e litigante, na maioria dos casos, de má-fé. Temos os precatórios que não são pagos. Temos acidentados que não recebem benefícios em dia (o INSS é de sua responsabilidade, sr. presidente).

Não temos medo algum de qualquer controle externo, sr. presidente. Temos medo, sim, de que pessoas menos avisadas, como V. Exa. mostrou ser, confundam controle externo com atividade jurisdicional (pergunte ao seu amigo Márcio, ele explica o que é). De qualquer forma, não é bom falar de corda em casa de enforcado. Evidente que V. Exa. usou da expressão "caixa-preta" não no sentido pejorativo do termo.

Juízes não tomam vinho de R$ 4 mil a garrafa. Juízes não são agradados com vinhos portugueses raros quando vão a restaurantes. Juízes, quando fazem churrasco, não mandam vir churrasqueiro de outro Estado. Mulheres de juízes não possuem condições financeiras para importar cabeleireiros de outras unidades da Federação, apenas para fazer uma "escova". Cachorros de juízes não andam de carro oficial. Caixa-preta por caixa-preta (no sentido meramente figurativo), sr. presidente, a do Poder Executivo é bem maior do que a nossa. Meus respeitos a V. Exa. e recomendações ao seu amigo Márcio.

P.S.: Dê lembranças a "Michelle".

fonte: estadão

Não que eu não sinta ânsia de vômito ao pensar no legislativo, afinal: Abelardo Camarinha, Silas Brasileiro deveriam ter sidos bloqueados pelo ficha limpa. Mas...

Aproveitando, para rir um pouco mais: CQC

Eu me envergonho de viver no meio de tudo isso.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Melhoria contínua (de coeficiente angular negativo)

Resposta do DETRAN ao último e-mail:

Em resposta ao seu e-mail temos a informar que, o Detran/Pr, através desta Coordenadoria, agradece sua colocação e espera contar sempre com sua participação, pois ao serem pontuadas as qualidades e/ou falhas da Instituição, gera-se a necessidade e o compromisso com a melhoria contínua, premissa da equipe do Detran/Pr.

Atenciosamente,

[Nome da Pessoa]
CAC

Nova resposta minha:

Eu não vejo melhoria, vejo piora contínua. Não consigo ver se quer um aspecto que tenha melhorado nos últimos 10 anos. Claro que alguma coisa pode ter passado, mas no geral estou bastante seguro que piorou.

Os serviços estão uma porcaria, estou de fato pontuando isso como uma falha da instituição. Mas o que eu esperava não era uma resposta genérica de reclamação. Eu esperava algo mais na direção de uma explicação menos estapafúrdia que aquela que consta no site e alguma idéia sobre como isso está sendo tratado. Essa restrição é temporária? Como será no futuro, eu poderei pagar sem ter que ir ao banco? Se sim isso ocorrerá a partir do ano que vêm?


Eu suponho que o texto desta resposta tenha sido usado um bom tanto de vezes. Eu sinto muito, mas a resposta padrão no modelo "obrigado pela sua reclamação, vamos tentar melhorar ainda mais" não cola. Eu não sou idiota, e não sou palhaço. Os serviços estão uma porcaria, tenham culhões de pelo menos se desculpar e dizer se estão trabalhando para mudar isso.

Os serviços de DETRAN/PR foram usáveis um dia, quando os serviços eram providos pelo Itaú. Depois disso os serviços ficaram uma porcaria e pioraram com o tempo. Se a melhoria contínua da qual eles estão falando for essa eu prefiro que todo mundo para de "melhorar" e deixe assim. Ou logo vou ter que ir pagar em dinheiro vivo no próprio DETRAN. Isso tudo, claro, para a minha conveniência!

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Banco do Brasil e outros insultos

No Brasil nós estamos tão acostumados a termos nossa inteligência insultada que as vezes nem percebemos quando isso está acontecendo.

Também é verdade que a maioria das pessoas que eu conheço (possivelmente a maioria dos brasileiros) não reclamem por medo de represália. A essas pessoas eu digo: Cuzões, vocês merecem todos os defeitos desse país. Pena que não dá para colocar vocês em um um curral, para formarem a sua própria sociedade.

À alguns anos havia uma campanha na Alemanha, expressa principalmente por uma frase: Mehr Toleranz (mais tolerância). Lá as pessoas ficam stressadas por lutar contra os pequenos problemas da sociedade. A sociedade como um todo funciona, mas isso é tão forte que justificou uma campanha para as pessoas diminuírem um pouco esta postura. Pessoalmente eu quero ir para lá. Talvez seja meu paraíso. Vale a pena sonhar um pouco.

Aqui, no Deixaprálálândia (vulgo Brasil), eu sugiro iniciarmos uma camanha: Weniger Toleranz (menos tolerância), ou Keine Toleranz (tolerância zero). Temos que reclamar, brigar, e até agredir, quando mesmo com diálogo não for possível eliminar algum absurdo.

Abaixo consta reclamação, enviada ao Detran PR por mim, 11 de outubro de 2010:

Eu venho por este reclamar da maneira como o licenciamento precisa ser paga este ano. Desde que as tarefas bancárias foram movidas do Itaú para o Banco do Brasil tem sido um grande transtorno pagar os impostos veiculares.

Este ano chegou-se ao cúmulo de se anunciar que para "trazer comodidade ao cidadão", não é possível emitir os dados para pagamento pelo site do detran. Eu não me senti nem um pouco cômodo ao ter que pedir à minha mãe, que é correntista do banco do brasil, para pagar uma conta para mim. E mesmo ela não pode pagar pela internet.

Eu só vejo comodidade para o próprio detran, por possuir este sistema de computadores que remete ao início dos ano 90. Se forem causar mais dificuldades para nós, cidadão e usuários, por favor pelo menos não ofendam nossa inteligência.